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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

HUMANOTECNOLOGIA – MEU MUNDO MINHAS REGRAS


Completando a trilogia dos artigos sob a rubrica HUMANOTECNOLOGIA, trago aqui mais um argumento na direção da conscientização do poder humano diante da ameaça das máquinas “inteligentes”. Desta vez, chamo atenção para as regras do jogo na batalha de tecnologias NATURAL X ARTIFICIAL. Penso que esse seja o momento oportuno e, arriscaria dizer, derradeiro, antes do juízo final. Nós, humanos 100% biológicos, somos e ainda seremos por algum tempo os donos da bola, os reis da cocada preta, os que ainda distribuem as cartas. Assim, temos a prerrogativa de ditar o rumo das coisas. Mas se essa é uma verdade, por que então estamos sucumbindo? Por que estamos perdendo a nossa capacidade de gerar renda suficiente para retroalimentar a lógica do autodesenvolvimento e, consequentemente, de novos ciclos de prosperidade? Para nos situarmos e respondermos a essas perguntas, vamos ter que adentrar em alguns aspectos.

A AMEAÇA AO HUMANO MECANIZADO

Em sua recente obra, HUMANOS SUBESTIMADOS, Geoff Colvin pontua a respeito da nova ordem na lógica produtiva. Seu argumento decreta o fim da histórica e mútua dependência entre o capital e o trabalho. O fundamento capitalista, a partir da revolução industrial, sempre esteve galgado nesses dois pilares. A expansão do consumo generalizado concomitante com a capacidade produtiva crescente fez, por séculos, desses dois elementos (vale lembrar nem sempre com um convívio tão amigável) aliados inseparáveis. A medida em que trabalho mais capital geravam mais riqueza, maior a capacidade de consumo e de novos investimentos, consequentemente gerava mais oportunidades de aplicação de capital e de trabalho. Esse círculo virtuoso perpetua-se através da “domesticação” do humano. Esse humano que catava seletivamente seu alimento, caçava bravamente animais ferozes para satisfazer suas necessidades calóricas e, mais tarde, produzia criativamente e de maneira artesanal artefatos e utilitários essenciais para sua subsistência, foi levado a abdicar de seu conhecimento e de sua criatividade para postar-se diante de uma esteira rolante onde ele, humano, mecanicamente executava repetidamente uma pequena parte de todas as tarefas necessárias para a produção de um determinado produto. Acontece aí o início do processo de mecanização do ser humano. Processos bem definidos e detalhados elaborados por um pequeno grupo de pessoa bem pagas para esse fim determinavam rigidamente o que fazer. O humano então passa a ter como sua principal habilidade a capacidade de executar com precisão os mesmos gestos e atos no menor espaço de tempo possível tarefas manuais e repetitivas que exigem muito pouco ou quase nada de sua inteligência. Muitos anos passaram-se e fomos construindo essa lógica como nossa zona de conforto. Paralelamente, ferozmente incentivados pela busca insaciável da elevação da produtividade e capacidade de fazer mais com menos, a tecnologia veio sendo desenvolvida. A obtenção de mais precisão, mais rapidez em processos cada vez mais estáveis são objetivos diários do mundo capitalista e nessa busca muitos períodos tensos foram enfrentados. Porém, sempre houve uma brecha aberta na razão capital – trabalho que acabou por reacomodar as coisas. No entanto, estamos hoje diante de um inusitado desafio batizado por gurus e estudiosos como a era pós-humanista. A perfeição de movimentos da robótica aliada à inteligência artificial e ao machine learning vêm proporcionando ao capital o poder único de satisfazer todas as necessidades de trabalho sem a intervenção humana. A lógica produtiva resume-se então em capital que gera trabalho, o qual é atendido pelo próprio capital de maneira mais rápida, eficiente e estável. Mas por que fica tão fácil para a máquina derrotar o humano?

A ROBOTIZAÇÃO CEREBRAL

Em um linguajar curto e grosso: o cérebro é como um músculo, se não usar atrofia. O cérebro dos humanos está atrofiado pela lógica imposta de mecanização das tarefas. Muitos entram em pânico quando são forçados a pensar fora da caixa. Mas por que não mudamos? Recorro aqui ao músculo novamente para explicar nossa grande resistência em ser diferente. Quando fazemos exercícios e somos conduzidos a executar movimentos que mexem com partes do corpo que não usamos usualmente, sentimos grande desconforto. A sensação de um esforço maior, a falta de coordenação. Isso nos leva imediatamente a pensar em desistir com o argumento de que isso não é para mim ou nunca gostei de exercícios. No dia seguinte, a tragédia completa-se, estamos semialeijados, com uma dor paralisante. O mesmo acontece quando nos forçam a criar, usar o senso crítico, expressar-nos de forma didática, ter ideias, etc. O processo levou-nos a uma condição semirrobótica, com alguns lampejos de rebeldia criativa. Somos humanos limitados em nossas potencialidades com um uso reduzido de nosso cérebro e totalmente vulneráveis à ameaça tecnológica. Somos presas fáceis para os infalíveis, ultraprodutivos e   cada vez mais cognitivos robôs. A lógica é perversa porque se a regra do jogo é fazer mais com menos, humanos robotizados não têm a menor chance. E qual será a saída, portanto? A resposta é simples: É PRECISO DESROBOTIZAR NOSSO CÉREBRO E ESTABELECER UMA NOVA ORDEM NESSE CAMPO DE BATALHA.

HUMANOTECNOLOGIA, A DESROBOTIZAÇÃO CEREBRAL


Isso vai parecer um pouco papo de doido, mas uma coisa é certa: o sistema de troca de horas dedicadas por dinheiro está ruindo. Oito horas diárias em troca de um holerite (contracheque para outros) no fim do mês, sem que se associe diretamente essa dedicação ao valor agregado entregue não funciona mais na era pós-humanista. Humanos precisam criar e consolidar novas bases para essa relação com o capital. Esse é o nosso mundo, portanto prevalecerão as nossas regras. A tecnologia humana, puramente biológica precisa dar-se conta do poder de suas capacidades e acordar a tempo para virar esse jogo. Mas será que conseguimos enxergar isso? Será que estamos equipados intelecto e emocionalmente para saber o que queremos? Essa é uma jornada que precisa ter início em algum momento. Para falar a verdade, ela já começou em polos mais avançados de desenvolvimento. A realidade é que precisamos levantar a cabeça e expandir nossa atenção. Precisamos nos conhecer mais, gerir nossos impulsos, acreditar que somos capazes de criar coisas, experimentar, ter apreço pelo incerto, construir criativamente e ter certeza de que no momento certo, a nossa intuição captará algo inusitado e valioso.  Crer no processo da HUMANOTECNOLOGIA e deixar a lógica mecanicista ser gradativamente absorvida pelas máquinas. Mas quais seriam então essas novas regras?

HUMANOTECNOLOGIA – MEU MUNDO MINHAS REGRAS

É óbvio que o processo é gradativo, não haverá o dia “D”, um momento em que as máquinas surpreendentemente sairão em bando detonando o mundo dos humanos. Porém, esse movimento gradual pode revelar-se uma grande vantagem ou, dependendo de cada um, uma ameaçadora ilusão. Dependerá da decisão individual que tomamos agora: se ficamos deitados em berço esplêndido esperando a luz divina vir nos salvar ou se entendemos de uma vez por todas o que está acontecemos e nos mobilizamos rumo à mudança. Se saímos do estado contemplativo de deslumbre em relação a todas as alternativas onde o prefixo/sufixo tecnologia aplica-se ou passamos a focar obstinadamente na nossa “HUMANOTECNOLOGIA”.  A tecnologia biológica do poder humano deve ser trabalhada e elaborada de forma estratégica para o protagonismo. Muito tem-se publicado a respeito do futuro do trabalho, mas qual seria então a essência humana da HUMANOTECNOLOGIA capaz de levar-nos ao topo nessa jornada? Resolvi resumi-las em quatro e abreviá-las estrategicamente na sigla ECOS, equivalente às iniciais das virtudes EQUIDADE, CORAGEM, ORIGINALIDADE e SOCIABILIDADE.

ECOS DA SUPERAÇÃO



































CONCLUSÃO
Existem desafios gigantescos a serem superados no futuro breve da humanidade e com eles, um mundo de oportunidades em que muitas das quais ainda nem nos damos conta. Na era pós-humanista, o diferencial será justamente a capacidade de mergulhar mais profundamente na essência humana e ter a habilidade de usufruir dela. Trazer para o topo da lista a melhor e mais poderosa tecnologia na face da terra: a HUMANOTECNOLOGIA.  

Encerro esse meu argumento com a imagem e a citação de um dos cientistas mais importantes do mundo contemporâneo. Citação extremamente atual e consciente de uma super-mente publicada em sua última obra, pós-morte, extraída de suas anotações: BREVES RESPOSTAS PARA GRANDES QUESTÕES. Exemplo singular de coragem e superação. 

 Stephen William Hawking foi um físico teórico e cosmólogo britânico e um dos mais consagrados cientistas do século. Doutor em cosmologia, foi professor lucasiano emérito na Universidade de Cambridge, um posto que foi ocupado por Isaac Newton, Paul Dirac e Charles Babbage.

... existem outros desafios, outras grandes questões no planeta que devemos responder, e elas exigirão uma nova geração interessada, engajada e com compreensão da ciência. Como alimentar uma população cada vez maior? Como fornecer água limpa, gerar energia renovável, prevenir e curar doenças e refrear mudanças climáticas globais? Espero que a ciência e a tecnologia forneçam respostas a essas perguntas, mas serão necessárias pessoas, seres humanos com conhecimento e compreensão, que implantarão essas soluções. Devemos lutar para que todo homem e toda mulher tenham a oportunidade de viver vidas seguras e saudáveis, repletas de oportunidade e amor. Somos todos viajantes do tempo em uma jornada rumo ao amanhã. Mas vamos trabalhar juntos na construção desse futuro, um lugar que queremos visitar.
Seja corajoso, seja determinado, supere as probabilidades. É possível. 


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COLVIN, Geoff. Humanos subestimados. São Paulo: DVS, 2016.
HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Cia. das Letras, 2015.
HAWKING, Stephen. Breves respostas para grandes questões. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018.

FREY, Carl Benedikt / OSBORNE, Michael A / HOLMES, Craig.  TECHNOLOGY AT WORK v2.0 The future is not what it used to be. Citi GPS: Global Perspectives & Solutions, 2016


Coaching - Uma outra abordagem para o Sucesso!

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

HUMANOTECNOLOGIA II: A SOBREVIVÊNCIA


1. HUMANOTECNOLOGIA II: A SOBREVIVÊNCIA

Dando continuidade e aprofundando um pouco mais as questões e inferências do artigo anterior intitulado “A Humanotecnologia”, venho com este novo texto trazer uma contribuição mais detalhada e consubstanciada sobre as chances humanas de fortalecer-se diante de tal avanço tecnológico. Em resumo, o texto anterior prega a inutilidade da resistência e negação dos impactos que a tecnologia, encapsulada pelo rótulo de “Quarta Revolução Industrial”, vem diariamente, impondo de forma exponencial às pessoas. Ao mesmo tempo, a proposta anterior trazia como pilar central a necessidade premente da conciliação do que o senso comum estabelece justamente como uma dicotomia – razão (cérebro) X emoção (coração).
Emoção, elemento particular atribuído aos humanos, ao contrário de pôr-se como uma ameaça ao sucesso pessoal, pode e deve ser domada e usada como poderoso elemento a favor da humanidade, e não ao contrário. A ferramenta científica pontuada naquele artigo via a inteligência emocional como possível para essa jornada. Seria então a batalha final entre as inteligências: emocional x artificial. No atual artigo, que tem como subtítulo “A Sobrevivência”, farei um mergulho no entendimento do desafio, nas chances humanas e como os humanos podem equipar-se e fortalecer-se para a batalha que se anuncia. Vamos lá então:


2. A AMEAÇA

2.1 Homem pelo homem

“O mundo está ficando desumanizado”, afirma o filósofo Luiz Felipe Pondé em seu best seller “Filosofia Para Corajosos”, e é preciso muita coragem para admitir, mas como todos sabemos, o primeiro passo para a cura é reconhecer a doença. Vejam, ainda não estou falando de artefatos ou aplicações tecnológicas. Ainda me refiro ao aspecto humano dentro do próprio humano biológico. A escalada na busca da perfeição, da longevidade e do controle das fontes naturais de instabilidade vem colocando-nos na trilha da perfectibilidade. A busca da felicidade e da neutralização total de todo o mal faz-nos cada vez mais seres supremos em direção ao poder divino na pretensão de assumirmos gradativamente o lugar do todo poderoso Deus. Essa visão vem consolidando-se a olhos vistos na vida real e está brilhantemente contextualizada na obra “Homo Deus”, do historiador Yuval Harari. Mas como tudo isso começou? Teremos que retroagir no tempo até os séculos XVII e XVIII. O sistema feudal europeu esfacelou-se, dando espaço para a entrada da burguesia em sua busca pelo sucesso por meio do aperfeiçoamento nos negócios pelo homem a partir do uso de sua razão, técnica e ciência. O estudo do Iluminismo, ideologia instalada naquela época, amplia o tema a respeito do surgimento da ciência no planeta Terra. Desde então vivemos ciclos de extrema prosperidade, com ganhos extraordinários em vários campos das necessidades humana. Somente para citar dois deles:
· geração de alimentos, com controle de pragas e adaptações climáticas na agricultura e logística;
· medicina, com a erradicação e controle de doenças através de diagnósticos cada vez mais precisos e a produção de vacinas e remédios eficazes na prevenção e cura de doenças.
 Tudo isso é muito bom mesmo, mas, e sempre há um “mas,” trouxe-nos ao patamar onde nos encontramos hoje. Vivemos em um estado de mercantilização das relações, onde a principal causa da desumanização deve-se à busca da perfeição, do aperfeiçoamento, da perfectibilidade ou do progresso. Queremos ser belos, saudáveis, eternos, bem-resolvidos e sábios. Essa escalada vinha desenvolvendo-se em perfeita harmonia com o humano soberano no comando da tecnologia até o ponto em que muitos começam a supor que é exatamente esse mesmo homem que atrapalha seu próprio aperfeiçoamento. Essa suposição baseia-se exatamente na mesma busca da estabilização de variáveis naturais citada anteriormente, que, no caso dos humanos, está diretamente ligada às suas emoções desorganizadas. A introjeção de artefatos tecnológicos no corpo humano já é uma realidade, apontando assim para uma era pós-humanista. Há até quem diga que a geração de hoje será a última 100% biológica. Será?
“Como não ver que a fúria pelo progresso contínuo chegará à conclusão de que é o humano no homem que nos atrapalha?” (PONDÉ, 2014)
Será?

2.2 Tecnologia

Não há necessidade de enumerar aqui os efeitos que o conjunto de transformações e rupturas que as inovações tecnológicas dos últimos anos vêm causando. Vivemos em uma poderosa transição na relação homem – máquina partindo do estado de “eu mando e você obedece” para “Ai Jesus! Como ela faz isso?”. Robótica, inteligência artificial e machine learning (entre outras coisas) estão empurrando cada vez mais a barra da atuação humana relacionada à complexidade laboral para cima na pirâmide de exigências intelectuais em todas as áreas e atividades, sem exceção, sendo umas mais vulneráveis e outras menos, mas arrisco dizer que não há quem esteja livre dessa. A busca pela precisão, agilidade, capacidade de abrangência, fazer mais com menos, a redução de custos, expansão de mercado, manutenção ou elevação de ganhos em um mundo progressivamente egoísta e consumista mantêm viva essa brasa ardente, sustentando a tese de que as regras do jogo estão estabelecidas. Independente do julgamento a respeito de onde isso nos levará no que tange a preservação da espécie, cabe aqui e agora um posicionamento humano a respeito do que fazer para manter-se firme no jogo.

2.3 Consequências

São inúmeros os impactos que essa combinação de fatores poderá trazer em nossas vidas: obsolescência, inutilidade funcional, subemprego, desemprego. Isso sem falar na pressão psicológica causada pela iminência do que poderá vir a acontecer com cada um de nós. Sendo assim, nos caberá a conscientização de que estamos, na melhor das hipóteses, diante de um cenário em que a água está batendo nos nossos traseiros. O que fazer então? Antes de partir precipitadamente para a resposta, vejamos.


3. HUMANOS, QUEM SÃO?

Em uma história de 570 milhões de anos de existência de formas de vida, nós humanos modernos, classificados como Homo Sapiens, demos o ar da graça nesse planeta somente (a luz do estudo da evolução das espécies) há aproximadamente 250 mil anos. Isso poderia nos dar um certo conforto com relação às besteiras que fazemos, afinal de contas, nossa constituição anatômica cerebral, apesar de evoluída, ainda guarda uma perigosa proximidade com antepassados mais primitivos. Somado a esse aspecto mais antropológico da evolução biológica de nossa espécie, encontramos uma resultante bem mais recente da história relacionada à formação de um modelo mental resistentemente alicerçado na resposta de sobrevivência da revolução anterior, a segunda Revolução Industrial. A Revolução Industrial Inglesa implantou um sistema mecanicista com camadas bem definidas de poder fincadas em uma separação clara dos que pensam e os que executam. Toda criatividade será castigada, salvo quando é proveniente da parte do grupo de elite que tem essa atribuição. Esse momento histórico foi brilhantemente dramatizado pelo gênio Chaplin em sua obra de arte cinematográfica “Tempos Modernos”. Dito isso, tão certo quanto a existência do sol e da lua, sabemos que conforto não é de forma alguma onde precisamos manter-nos nesse momento.

3.1 A nova ordem

Acontece que que o chamado de hoje é outro. Paralelamente à progressão exponencial da substituição da mão de obra humana pela máquina, o sistema começa a exigir habilidades e competências que ele, humano contemporâneo, não foi preparado e incentivado ao longo de sua vida. Ocorre que as transformações mercadológicas acontecem de maneira muito mais rápidas do que a possibilidade instantânea de reformulação dos meios de educação e incentivo. Ainda mais considerando que vivemos atualmente em um mundo híbrido, separado entre o tradicional e o ultramoderno. No movimento pendular evolutivo acompanhamos o esfacelamento do modelo tradicional e a estruturação crescente e gradativa de uma nova forma de fazer negócios e de comportamento organizacional. Esse novo formato está emblematicamente representado pela gestão de solução de problemas e criação, batizada como Processos Ágeis (SCRUM), onde o coletivo é imprescindível, a autonomia é uma realidade, a participação é incentivada e correspondida, a experimentação faz parte do processo de criação e a liderança está em movimento migratório baseada no aproveitamento da expertise de cada indivíduo em cada situação. Esse é um processo sem volta onde a necessidade de adaptação é tão grande quanto o tamanho do desafio, tanto para líderes quanto para liderados. Resta agora um momento de reflexão e tomada de decisão em cima das perguntas:
1. Como posso trabalhar melhor dentro dessa nova realidade?
2. O que vem atrapalhando-me a executar o meu trabalho com excelência?
3. Quais são os obstáculos que desaceleram o meu ritmo?
Essas perguntas são fundamentais para o engajamento do melhor da porção humana em um cenário inundado por soluções tecnológicas. Elas nos conduzirão a identificar a melhor porção humana não encontrada e, ainda longe de vir a ser, em qualquer máquina.
  
4. ELEMENTOS CHAVE DA EQUAÇÃO DA PORÇÃO HUMANA

4.1 Cognição

É algo em contínuo movimento. É o conteúdo retido e a capacidade de aquisição de novos conhecimentos. Está diretamente ligada à primeira pergunta, O QUE?. Filósofos gregos já atribuíam a cognição à percepção, atenção, associação, memória, imaginação, linguagem, ao raciocínio, juízo e pensamento. A captação dos inputs e estímulos do meio ambiente através dos cinco sentidos. Informações que, após processadas, levam à adaptação ao meio e à solução de problemas. Todo esse repertório leva à modelagem do que vem a ser o “MODO DE SER INTERNO”. A captação pelos sentidos resulta em uma percepção lapidada pela influência do meio acrescida do registro (memória). Dentro da nova ordem, isso seria então a área de expertise. O saber técnico, a competência resultante do entendimento a respeito de regras, normas, leis, teorias, fórmulas, etc.

4.2 Emoção

De forma bem sucinta, a emoção é a reação subjetiva aos estímulos ambientais (externos) ou pessoais (pensamentos internos) através de alterações neurobiológicas. Está associada a(o):
· Temperamento – particularidades // comportamento
· Personalidade – padrões de pensar, sentir e agir
· Motivação – condição do organismo que influencia a direção do comportamento
Importante: a emoção sentida é diferente do comportamento clássico a ela associada. É possível sentir a emoção sem ter o comportamento correspondente clássico (chorar, lutar, rir, gritar, correr, etc.).

4.3 Essência humana

Os dois elementos acima são representados por regiões distintas do corpo humano. Enquanto a cognição está mais diretamente relacionada ao racional ou o cérebro, a emoção vem simbolicamente representada pelo coração. Na verdade, sabemos que o cérebro é responsável por tudo, mas em um formato mais romântico, deixamos o simpático coração assumir essa função. Bom, assim sendo, é exatamente nele, no nosso representante vermelhinho que encontramos a essência distintiva do ser humano diante desse suposto confronto com o poder insuperável e cada vez mais cognitivo das máquinas.
O problema é que em razão da inexperiência evolutiva, citada anteriormente, e por falta de adestramento deixamos que essa essência emocional flua de forma automática e selvagem sem que nem mesmo nos demos conta de sua existência. Então, o que poderia ser um valoroso diferencial positivo, transforma-se em mais um elemento de desvantagem diante da necessidade premente de encaixe perfeito da peça humana na engrenagem tecnológica. Daí a pergunta: Será a porção humana que atrapalha o humano? Minha resposta é categórica – não. A porção distintiva humana, isto é, A Emoção, quando usada com inteligência poderá levar-nos de volta ao patamar de supremacia nessa jornada. Isso leva-nos, então, ao tópico principal desse artigo.


5. INTELIGÊNCIA EMOCIONAL (IE): PRINCIPAL TRUNFO

Mas o que é de fato ser inteligente emocionalmente? Em uma breve frase, posso dizer que agir com inteligência emocional é ter um comportamento afinado com um estágio avançado de controle de sua mente. Como já falamos antes nesse texto, temos uma proximidade temporal, anatômica perigosa com nossos ancestrais mais primitivos, nossos instintos primários pulsam forte em nossos cérebros. Se deixarmos por conta do acaso, teremos resultados imprevisíveis. Portanto, desenvolver inteligência emocional, é na verdade, promover um upgrade em nossa programação mental. Ter consciência de como somos, como reagimos aos estímulos, como dominamos nossas reações improdutivas, como nos relacionamos com o mundo externo e finalmente como alinhamos nosso comportamento estrategicamente para obtenção de nossos desejos e objetivos.
Para dar andamento ao tema, dentro do âmbito empresarial, vou associar a IE às exigências fundamentais e modernas de um líder. Abro mão aqui do conceito do líder atrelado a uma formalização hierárquica. Falarei do líder engajado em um ambiente moderno de uma liderança migratória e circunstancial. Portanto, se você não tem um título em seu registro que pressupõe estar em uma posição de liderança, não importa, em algum momento em um futuro breve você será chamado a cumprir esse papel.
Uma outra informação necessária é que grande parte do que vou compartilhar daqui para frente foi baseado ou inspirado nas obras de um dos mais importantes pesquisadores e autores no campo da IE, o psicólogo norte americano Daniel Goleman. Ao final, farei referência das fontes. Paralelamente, lancei mão de minhas memórias e experiências de mais de 30 anos como líder em corporações de médio e grande porte para validar o grande poder da IE na condução de negócios.

5.1 Elementos chave da IE

A primeira descoberta importante no campo da neurociência que contribuiu para aumentar as chances do desenvolvimento da IE foi que a atenção (foco) e a emoção estão entrelaçadas nos circuitos cerebrais. De forma sucinta, isso quer dizer que que o controle da emoção está diretamente ligado ao gerenciamento da atenção.


Essa é uma informação ultra importante e, se pararmos para pesar, faz muito sentido. Só recebemos estímulo daquilo em que colocamos nossa atenção. Nosso foco precisa ser seletivamente direcionado para o que realmente importa;
“Lideres precisam conduzir bem a atenção e isso requer uma percepção clara de onde, quando, por que e em que direção precisamos conduzir nossa consciência.”
Exatamente por isso que o desenvolvimento e a implementação de um robusto referencial estratégico (visão, missão, objetivos e sistema de incentivos), em paralelo com um consistente esquema de comunicação, são imprescindíveis em uma organização.  Isso contribui em muito para que a atenção coletiva esteja voltada para a mesma direção.  Ao mesmo tempo represamos as emoções, oriundas do ambiente externo, dentro de um mesmo contexto.
Expandiremos agora essa atenção para três dimensões.

5.2 Tríade da consciência

INTERNA // NO OUTRO // EXTERNA è Abundante e equilibrada. Com flexibilidade para exercer a consciência certa no momento certo.

5.2.1 Foco interno
Estar capacitado para trazer sua concentração para dentro de si e ter consciência de como as coisas acontecem internamente.

5.2.2 Controle cognitivo

É o termo científico para prestar atenção onde queremos e mantê-la em face à tentação de divagar. Capacidade fundamental da autoconsciência. Função executiva do cérebro, localizada no córtex pré-frontal (gerente do cérebro).
“Os mesmos circuitos neurais que permitem a realização obstinada de metas, também controlam as emoções rebeldes”.
Exemplos dos sinais de controle:
1. Permanecer calmo durante crises
2. Recuperar do fracasso ou derrota
3. Ser claro e franco sobre suas forças e fraquezas
4. Ser confiante quando utiliza seus pontos fortes
5. Saber que suas limitações recomendam que recorra a outras pessoas com fortes habilidades na área
O nosso “Algoritmo Ético” conduz-nos à decisão do certo ou errado.
Sensações viscerais são como “Marcadores Somáticos” è leme interno que para qualquer decisão, nos informa a soma total de lições pertinentes obtidas de nossas experiências de vida.
Quando sentimos aquele frio na barriga diante de um dilema e da pressão de tomar uma decisão. Após termos obtido e analisado todos os dados disponíveis, temos aquele momento crucial onde os marcadores somáticos entram em ação e dão o empurrãozinho final.
Nossa intuição sobre o que fazer e o que não fazer está incondicionalmente atrelada aos nosso valores.
Para fortalecer seu intervalo de atenção:
Pare de sobrecarregá-lo è Fazer intervalos a cada 4 horas. Nosso cérebro não está preparado para longas jornadas.
Pratique mindfulness - atenção plena (extraído do sistema de crenças religiosas)
A neurociência por trás da atenção plena baseia-se no conceito da neuroplasticidade.
“O cérebro muda com a experiência repetida, à medida que alguns circuitos se fortalecem e outros definham”
“A atenção é o músculo mental”
Existe uma série de exercícios simples e que devem ser praticados diariamente para o desenvolvimento da atenção plena. O mais conhecido é o da respiração. Traga a sua atenção para a sua respiração durante alguns minutos e tente não pensar em mais nada. Sua mente certamente irá divagar, não resista, somente se dê conta de que divagou. Receba naturalmente o pensamento divagante e deixe-o ir intencionalmente voltando para a respiração. A tendência é que, com o tempo, o número de divagações diminuirá. Existe boa literatura a respeito. Baseio-me no livro “Atenção Plena”, de Mark Williams e Dany Penman. Este livro é basicamente um manual de aplicação do mindfulness e vem com o CD com os áudios dos exercícios (também pode ser baixado do link fornecido no livro).
3 Soluções rápidas para mente divagante (D. Goleman)
· Administrar as tentações (interferências digitais) – disciplina para inibir ou restringir
· Monitorar sua mente e refletir – observe onde foi parar a sua mente ao ser seduzido por distrações. Reflita conscientemente, veja quando a sua mente divagou de novo. Esse pensamento desvia a mente da divagação e ajuda a dirigi-la de volta à concentração
· Praticar ao menos uma sessão diária de atenção plena. 

5.2.3 Foco no outro

É muito mais do que, como se diz comumente, “colocar-se no lugar do outro”. É saber escutar ativamente e ser capaz de ajustar a resposta nos termos que o outro mais se identifica. É compreender e sentir efetivamente a dimensão da emoção do outro. É agir proativamente no sentido de contribuir para ajudar o outro. Líderes que fazem bem isso têm:
· Capacidade de captar a vibração de um grupo, reconhecendo um consenso tácito.
· Facilidade de relacionar-se.
· Capacidade de saber em uma apresentação quando os ouvintes precisam que se passe de dados frios para um momento de descontração ou vice-versa.
· Alto poder de influência diante de seus liderados, pares e líderes.
3 Tipos de Empatia:
Ø Empatia Cognitiva
o Entender a perspectiva da outra pessoa, os modelos mentais pelos quais ela enxerga seu mundo
o Expressar a mensagem nos termos que farão mais sentido
o Atingir melhor grau de persuasão
Ø Empatia Emocional
o Detectar imediatamente como alguém se sente naquele momento
o Promover interações com forte química, com sentimento de ressonância, a qual gera uma sensação de conexão, confiança e compreensão
Ø Preocupação Empática
o Reagir espontaneamente aquilo que as pessoas sentem que mais importa para elas
o Ajudar as outras pessoas
o Criar uma atmosfera de segurança e confiança de modo que liderados sintam-se seguros para correr riscos e experimentar novas ideias
Objetivo: Construir Vínculos

5.2.4 Foco externo

Estar antenado no que acontece, nas tendências, identificar seletivamente o que mais interessa. Fechar ou expandir a visão dependendo da exigência do momento. Foco externo tem um apelo estratégico muito forte e que pode ser dividido em dois:
Ø Exploração.
o Operacional seletivo, descontinuando ou eliminando negócios ou transações que não agregam o valor necessário.
Ø Investigação.
o Inovação constante e revolução criativa. Empreendedor em busca da próxima novidade.
Ocorrem em áreas diferentes do cérebro:
↑Nível de Consciência Sistêmica      x       ↓Déficit de Empatia
↑Nível de Empatia                             x       ↓Cegueira Sistêmica
A situação ideal é que se consiga um balanceamento perfeito

Em resumo:
Cada um desses 3 tipos de foco e suas subvariedades têm seus benefícios e os líderes precisam de todos os 3 em equilíbrio. O foco certo, na medida certa, na hora certa.


O entendimento da Tríade da Consciência escancara a porta para que possamos então buscar o desenvolvimento nas competências básicas de uma boa Inteligência Emocional. O avanço nessa área trará então uma dimensão definitiva para o perfeito reenquadramento de sua carreira, seja ela em que área for, em uma nova dimensão. Mais do que isso, sendo esse um processo contínuo, permitirá que você se autorregule de maneira recorrente buscando a melhor adaptação ao meio que atua e liberando a usina de soluções criativas que habita em sua mente. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

o O humano no homem é o diferencial positivo
o A busca da perfectibilidade deve incentivar o upgrade humano
o A tecnologia vem para somar
o O primeiro passo para o desenvolvimento é reconhecer as fraquezas
o Razão e Emoção são aliados imbatíveis
o O gerenciamento da ATENÇÃO facilita o controle da EMOÇÃO
o O cérebro muda com a experiência repetida (musculação cerebral)
o A meditação fortalece a capacidade de foco
o O equilíbrio e a habilidade em dosar o uso dos 3 focos (Interno, no Outro, Externo) no momento apropriado é fundamental para a liderança efetiva
Relembrando, segue abaixo a representação gráfica das 5 competências da IE


Dica de ouro: Duas grandes vantagens que os robôs que aprendem têm sobre os humanos é que eles: 1) não têm crenças limitante dizendo a eles que não conseguirão fazer algo e 2) não têm vergonha ou orgulho que os impeçam de tentar até conseguir independente do ridículo ou frustração que as tentativas fracassadas possam causar. Não é fácil vencer essas duas barreiras, mas os benefícios para quem consegue são enormes. Pense nisso.

REFERÊNCIAS

GOLEMAN, Daniel. Liderança: a inteligência emocional na formação do líder de sucesso. São Paulo: Objetiva, 2015.

HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Cia. das Letras, 2015.

PONDÉ, Luiz Felipe. Filosofia para corajosos. 3 ed. São Paulo: Planeta, 2014.


SUTHERLAND, Jeff; SUTHERLAND, J. J. Scrum: a arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo. 
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