Prof. Guilherme Borges Pacheco Pereira
O analfabetismo funcional do universitário brasileiro certamente é
efeito de múltiplas causas. Entre elas, a reconhecida má qualidade da educação
básica em nosso país. Outra razão que me parece significativa é a expansão da
Educação Superior, que está recebendo alunos ainda sem o capital intelectual
esperado pelo Ensino Superior comum.
Mas este cenário negativo guarda, de certa forma, uma certa esperança.
Creio que estamos passando por um momento de mudança histórica que se resolverá
mais adiante. Ou isso, ou o país sofrerá a pena de retornar à condição semelhante
aquela existente na primeira metade do século XX.
Um marco recente na educação brasileira, que tem relações diretas com o
mencionado analfabetismo funcional, é a busca pela universalização do Ensino
Fundamental. No governo FHC, com o Ministro Paulo Renato, atingiu-se 97% de frequência
escolar neste segmento. Um número recorde! Qual o primeiro efeito? Aumento nos
anos de estudo e diminuição do analfabetismo. Como desdobramento, maior acesso
ao Ensino Médio. Vale lembrar que o Programa Bolsa Escola foi acolhido e
instituído pelo Governo Federal ainda sob a batuta de FHC/Paulo Renato e se
tornou importante instrumento de acesso à escola para o segmento mais pobre da
população.
O efeito seguinte foi a demanda pelo Ensino Superior. Uma parte dessa
demanda veio da expansão da Educação Básica, outra parte foi induzida pelas
políticas oficiais como o FIES, o PROUNI e a Política de Cotas, iniciadas por
FHC e continuadas pelos governos Lula-Dilma. Se considerarmos os vários
indicadores sociais e econômicos, ainda temos enorme déficit na formação
superior. Há cerca de 7 milhões de universitários no Brasil, mas se
considerarmos o tamanho da população e o nível econômico do país, deveríamos
ter hoje cerca de 20 milhões de universitários. A demanda é ainda muito
reprimida e os investimentos e subvenções são justificáveis. Mas tivemos um
efeito negativo (creio ser temporário) que foi o ingresso de alunos com pouca
preparação para o ensino universitário. A Educação Básica ainda não se ajustou
em qualidade à expansão de matrículas dos últimos 15 anos.
A expansão das matrículas é um fato importante, todavia não
representa qualidade do ensino, em nenhum dos níveis de ensino. Mas é o
primeiro passo para uma educação de qualidade. A partir do aumento da
quantidade espera-se o salto qualitativo. Podemos admitir que parece ser mais
fácil e recomendável implantar a expansão horizontal da educação (número de
matrículas), do que a expansão em profundidade (resultados). Se no momento
histórico em que vivemos é inadmissível uma criança fora da escola, daqui para
frente é será igualmente intolerável o analfabetismo funcional e a falta de
qualidade da educação.
Já estamos enfrentando o desafio da qualidade. Não tenho dúvida que a
qualidade virá, mas não como um fato natural, é preciso encaminhar o processo.
Mas, de fato, já está acontecendo. Um importante exemplo é que as diferenças de
pontuação entre os cotistas e os não cotistas para o acesso às Universidades
Federais pelo Sisu, estão caindo, sem que os pontos de corte tenham
caído. É um sintoma importante para a qualidade do Ensino Superior.
Por outro lado é verdade que a grande parte dos estudantes
universitários (cerca de 75%) está na universidade privada, não na universidade
pública onde há mais concorrência e mais competência. Mas este efeito não
tardará a alcançar as IES privadas, pois esses estudantes fazem parte do mesmo
conjunto que se beneficia da expansão horizontal da educação (vide PROUNI).
É preciso ter paciência histórica, eu escrevi acima. Não tenho dúvidas
que conseguiremos. Mas ao mesmo tempo, só nós somos capazes de agir
historicamente. A qualidade da educação não é mero acaso, portanto, somente nós
somos responsáveis pelas mudanças.
A discussão agora é como fazer. A lista é grande, mas não é impossível.
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